CB Montevidéu – S. Leopoldo, maio de 1912
O post de hoje é impróprio para menores. O colega Gunther Conrad, da ArGe-Brasilien, teve a gentileza de me enviar imagens de uma carta-bilhete uruguaia, escrita em maio de 1912 e enviada a São Leopoldo/RS, via Rivera e Livramento, com carimbo de passagem por Porto Alegre em 30 de maio. Como não pretendo causar constrangimentos entre eventuais descendentes, os nomes do remetente e destinatário vêm cortados das imagens e substituídos por iniciais na transcrição do texto.
Texto da Carta-Bilhete
Aqui o texto transcrito:
Montevideo, 14 de Maio de 1912
Caro amigo T...
Como deves saber estou em viagem
a Buenos Aires e não esqueci do
amigo em escrever-te, já estou 3 dias
em Montevideo, uma bella cidade
rival de São Paulo. As ruas principaes
são ornadas de modernos e elegantes
palacetes. Só a rua principal, que é
a calle (rua) 18 de julho, tem mais
de 20 cafés, todos eles corretos; o principal
é o Café Giralda, (em) que se pode admirar o bello
ornamento que possue. As praias de
banho é (um dos) passeio mais agradável
que se pode imaginar. Sobre a vida
mundana, o que é uma maravilha,
tem o célebre “Quilombo”, aonde
pode-se gozar as noites de amor fantásticas.
Paga-se um peso ou dous (3$000), tem
mulheres que em Porto Alegre
seria preciso pagar 20 a 50$000. Estive com
duas francesas em dous dias, gozei à vontade,
mas são de belleza incorrigível e corpo
de apaixonar um indivíduo inexperiente.
O dia que puderes dar um passeio até aqui,
faça, que não é de arrepender. Aproveito
a opportunidade (para) pedir obsequio de recommendar
do amigo e conhecido. Saudações do amigo
J... K...
Sigo amanhã a Buenos Aires
Além das descrições turísticas e fanfarronices testosterônicas, esse texto me trouxe uma informação muito importante para resolver uma antiga dúvida: por que se usa a palavra quilombo, no Uruguai e Argentina, para designar tanto uma bela bagunça quanto uma orgia? Pois “Quilombo” teria sido um famoso prostíbulo de luxo em Montevidéu no início do século passado! Tão famoso, que seu nome passou a ter uma conotação genérica, pelo menos nos países hermanos. A palavra passou, de refúgio de escravos foragidos a orgias e bagunças de toda espécie, por um puteiro da capital uruguaia, onde turistas endinheirados se distraíam com suas francesas...
Mas não seria essa designação anterior a 1912? Não haveria nosso felizardo leopoldense já utilizado o nome genérico, aprendido dos uruguaios? Acredito que não, pela forma com que ele se refere à casa dita de tolerância: o célebre “Quilombo”. Ele não escreve um célebre quilombo, mas coloca e palavra entre aspas, com Q maiúsculo, e ainda sublinhada.
Agora é descobrir onde ficava esse quilombo uruguaio. Vai ser difícil, a imprensa local da época não deve ajudar muito...
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