Quando surgiu a filatelia na literatura brasileira?
- Fabio Monteiro
- 10. Apr. 2022
- 2 Min. Lesezeit

Paulo Coelho, 2013 (Foto: Marvin Zilm, Wikipedia)
Há alguns meses, o grupo de WhatsApp que se ocupa da filatelia imperial e do início da república brasileira localizou um texto escrito pelo mago Paulo Coelho na década de 70 para o jornal carioca O Globo, que tratava do nosso hobby:
Daí surge a pergunta: será que Paulo Coelho era filatelista também? A resposta foi encontrada na página 108 de sua biografia, escrita por Fernando Morais:
“Salvo esses rápidos desvios de rota – outra paixão fugaz foi a filatelia -, o primogênito do dr. Pedro continuava alimentando um único sonho, o mesmo de sempre: ser escritor.” (Fernando MORAIS: O Mago – a incrível história de Paulo Coelho, 2ª. ed, Ribeirão Preto, 2015)
Se considerarmos que esta passagem se referia a um episódio de 1962/3, podemos concluir que aquela paixão não foi tão fugaz assim, visto que ela seria tema de uma matéria destinada à publicação depois de mais de dez anos.
Mas o tema persiste. Na sua coletânea poética autobiográfica intitulada Menino Antigo (Boitempo II), de 1973, Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) colocou um poema intitulado Prazer Filatélico, que pode ser lido aqui:

Carlos Drummond de Andrade, 1970 (Foto: Wikipedia)
Ele voltaria ao assunto em Esquecer para Lembrar (Boitempo III), de 1979, no poema Coleção de Cacos, para dizer:
Já não coleciono selos. O mundo me inquizila.
Tem países demais, geografias demais.
Desisto.
Nunca chegaria a ter um álbum igual ao do Dr. Grisolia,
orgulho da cidade.
E toda gente coleciona
os mesmos pedacinhos de papel. (...)
Mas quando apareceu a filatelia na literatura brasileira pela primeira vez? Encontrei por acaso a referência mais antiga que conheço até agora, na peça teatral O Boato, do esfuziante escritor gaúcho João Simões Lopes Neto (1865-1916), levada ao palco em Pelotas em 1893, em plena Revolução Federalista, portanto. No Ato 2º , Quadro 4, cena XIX, o personagem 2º Elegante fala:
Vocês se queixam do estômago, da cabeça, de tudo, pela vida desordenada que levam: dediquem-se às artes liberais, colecionem selos, desenhem monogramas, aprendam a fazer sombrinhas chinesas... (João Simões Lopes Neto: Teatro (Século XIX), Org. João Luis Pereira Ourique e Luís Rubira, Porto Alegre, 2017, p. 96)

João Simões Lopes Neto (Enoch Haim, Wikipedia)
O mesmo escritor voltaria à carga no ano seguinte, com a peça Os Bacharéis, onde o personagem Pombinho, no Ato 3º, Cena 11, diz:
Divórcio, sim. Separação de corpos e bens, liberdade mútua, com restrições assim...assim, maus tratos, sevícias, infidelidades, prodigalidades, inaptidão filatélica, tudo!... (idem, ibidem, p.168)
Se considerarmos que João Simões Lopes Neto foi o editor de uma série memorável de cartões postais intitulada “Colecção Brasiliana”, podemos apostar que ele próprio deve ter tido sua paixão filatélica, também.
E agora, será ele o primeiro escritor brasileiro a tematizar a filatelia, ou alguém consegue destroná-lo com um exemplo ainda mais antigo?
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