Mitos de Verdade (IV): Paul Watzlawick
- Fabio Monteiro
- 25. Juli 2021
- 2 Min. Lesezeit

Foto: Ulf Andersen
Hoje se comemora o centenário do nascimento do filósofo, psicoterapeuta e comunicador austro-americano Paul Watzlawick. Ele é conhecido mundialmente por obras popularescas como “Anleitung zum Unglücklichsein” (em português: “Sempre Pode Piorar ou A Arte de Ser (In)feliz”), mas uma curta pesquisa já revela que ele foi muito mais do que um sábio que destrinchava temas complexos em palavras simples.
Nascido em Villach, na Caríntia, numa família abastada (o pai era banqueiro), foi convocado para o serviço militar no início da Segunda Guerra. Seu inglês era muito bom, e ele foi encarregado de interrogar prisioneiros britânicos e americanos. Sua empatia com os detentos não só determinaria sua futura profissão, como também, ao se descobrir que ele não traduzia integralmente o que os presos falavam, rendeu-lhe uma cadeia até o fim da guerra.
Depois do Armistício, trabalhou como tradutor para os ingleses e estudou filosofia e filologia em Veneza. Após o doutorado, especializou-se em psicoterapia no Instituto Carl G. Jung em Zurique, partindo em seguida para a Índia, onde aprendeu ioga e conheceu Krishnamurti. Em 1957 foi contratado como professor em psicoterapia pela universidade de El Salvador, indo de lá para Palo Alto, Califórnia, em 1960, para trabalhar no Mental Reseach Institute, coordenado por Don D. Jackson. Lá ele permaneceu até sua morte (em 2007), além de também ter lecionado psiquiatria em Stanford a partir de 1976.
A principal contribuição de Watzlawick em seu trabalho é a ênfase nos problemas de comunicação dentro da psicoterapia. Junto com seus colegas em Palo Alto, ele desenvolveu uma teoria construtivista da comunicação que, ao enfatizar o Aqui e Agora, colocava em cheque a psicoterapia tradicional, que priorizava o histórico do paciente. O primeiro axioma dessa teoria é o já famoso:
“A não-comunicação é impossível.” („Man kann nicht nicht kommunizieren!“)
Se juntarmos a esse axioma uma outra citação de Watzlawick, veremos o alcance e atualidade de suas observações:
"A verdadeira causa do sofrimento está em nossa falta de vontade de ver os fatos como fatos reais e idéias como meras idéias, e assim misturarmos sem parar fatos com conceitos. Nós tendemos a tomar idéias por fatos, o que cria o caos no mundo."
Como se Watzlawick já tivesse previsto um mundo dominado pela facilidade em se espalhar fake news, pela incapacidade crítica daqueles que só registram o que alimenta seus preconceitos, e pela omissão dos que se dizem “apolíticos”.
Essa omissão frente ao problema real é ilustrada por Watzlawick numa bela anedota:
‘Watzlawick descreve, entre outras coisas, um homem que bate palmas a cada dez segundos. Quando perguntado sobre a razão deste estranho comportamento, ele explica: "Para afugentar os elefantes". Quando lhe disseram que não havia elefantes ali, o homem responde: "Por isso mesmo! Viu só?" Com isto, Watzlawick quis mostrar que a tentativa consistente de evitar um problema - aqui: o confronto com os elefantes - na verdade o perpetua.’
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