Mitos de Verdade (II): Katalin Karikó
- Fabio Monteiro
- 4. Apr. 2021
- 2 Min. Lesezeit
Enquanto os falsos mitos adoram holofotes e não deixam passar microfone sem alardear suas bravatas, os mitos de verdade costumam trabalhar em surdina, focados na sua missão, sem se preocupar com fama, dinheiro ou poder. Depois de conhecer o casal Uğur Şahin e Özlem Türeci, hoje apresentaremos a bioquímica húngara Katalin Karikó. Como os húngaros costumam chamar primeiro pelo sobrenome, seu nome se pronuncia Kóriko Kótolin:

Foto: Jessica Kourkounis
Ela nasceu em 1955 em Szolnók, uma cidadezinha de uns 70 mil habitantes a cento e poucos km a leste de Budapeste. Mas a família morava em Kisújszállás (pronúncia: Kishuisálasch), de uns 11 mil habitantes, onde seu pai era açougueiro. Aos 18 anos, Katalin foi estudar biologia em Szeged, a terceira cidade do país. Fez seu doutorado sobre RNA, e no meio do pós-doutorado teve problemas com a universidade na capital. Emigrou em 1985 com o marido, um engenheiro chamado Bela Francia, e a filha pequena para os EUA.
Nos EUA, sua carreira não teve nada de tranquilo: depois de três anos na Temple University em Filadélfia, ela morou um ano em Washington, antes de regressar em 1989 para Filadélfia, desta vez na faculdade de Medicina da Universidade da Pensilvânia. Ali, ela não obteve a renovação do seu contrato bem dotado, e teve que se contentar com um pagamento menor, para poder prosseguir a pesquisa na sua área de interesse, a utilização do mRNA (Messenger-RNA) para fabricação de vacinas no tratamento de câncer, AVC e outras moléstias. No início do século, ela conseguiu sintetizar moléculas de mRNA que não eram destruídas pelo sistema imunológico. A partir de sua descoberta, outros colegas da Universidade de Harvard fundaram a firma farmacêutica Moderna em 2010 em Cambridge, Massachusetts.
O trabalho de Katalin chamou a atenção de Uğur Şahin e Özlem Türeci, que a convidaram para Senior Vice-Presidente da firma BioNtech, na Alemanha, em 2013. Ela aceitou, e hoje ela é também professora-adjunta na Universidade de Pensilvânia. Seu trabalho foi decisivo para a elaboração da vacina da BioNtech/Pfizer, e desde o ano passado ela já recebeu nove premiações, entre medalhas e cidadanias honorárias, além de ser uma séria candidata para o Nobel de Medicina. Ah, e sua filha Zsuzsanna é duas vezes campeã olímpica e duas vezes campeã mundial com a equipe americana de remo de oito com timoneira. Outra lutadora iluminada.
Bonus tracks:
https://en.wikipedia.org/wiki/Katalin_Karik%C3%B3
https://picoteefiligrana.wixsite.com/website/post/mitos-de-verdade-i
Dois anos e meio depois desse post, adivinhem quem ganhou o Nobel de Medicina? 😀😀😀