O Rio Paraibuna nasce das montanhas da Zona da Mata mineira em direção ao sul, onde ele se encontra com o Rio Preto na fronteira estadual com o Rio de Janeiro. Então ele faz uma curva ao leste, acompanhando a divisa até sua barra no Rio Paraíba do Sul, perto da cidade de Três Rios. O Registro do Paraibuna foi construído em 1723 no início desse trecho fronteiriço, na margem norte do rio, ou seja, em território mineiro, mas todas as fontes são unânimes em afirmar que sua administração fiscal e postal era feita pela província do Rio de Janeiro. O prédio existe ainda hoje, em mau estado de conservação. E a ponte do início do século 19 foi decisiva para a consolidação do Caminho Novo, a nova rota comercial entre Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Mas existe ainda um outro Rio Paraibuna, desta vez em São Paulo. Este emerge nas proximidades de Cunha e corre para o oeste até encontrar o Rio Paraitinga na altura do município de Paraibuna. Os dois rios juntos compõem o Paraíba do Sul, que mais adiante, na altura de Jacareí, faz uma curva espetacular na direção oposta. Correndo então para leste, ele atravessa a divisa com o Rio de Janeiro até se encontrar com o outro Paraibuna descrito acima.
Essa situação meio complicada contribuiu para alguma confusão entre os pesquisadores da história postal brasileira. O Guia do Correio do Brazil de 1856 cita duas agências chamadas Parahybuna: uma no Rio e outra em São Paulo. Já o Guia Postal do Impériode 1880 cita apenas a Parahybuna paulista. Nova Monteiro (Administrações e Agências Postais do Brasil Império – 1798-1869, Rio 1934-5, reimpressão SPP, 1994-9) cita a Parahybuna fluminense, com data de criação para a agência de 26 de março de 1840, e a paulista. Paula Sobrinho (História Postal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1997) menciona uma estação ferroviária de Paraibuna, da E.F. D. Pedro II, instalada em 1874 em Minas Gerais, o que é confirmado por Ralph Giesbrecht (estacoesferroviarias.com.br). Reinhold Koester (Carimbologia do Brasil Clássico, 1961-1992) lista uma agência de Parahibuna em S. Paulo (instalada em 1844), uma segunda no Rio de Janeiro (que ele acreditava ser idêntica à do Guia de 1856), e uma terceira na estação ferroviária mineira. Além disso, ele menciona uma agência chamada Ponte do Paraibuna, que seria idêntica à do registro do Paraibuna, no Rio de Janeiro. Paulo Novaes (agenciaspostais.com.br) coloca três agências quase no mesmo lugar: registro do Paraibuna (ativa de 1849 até ca. 1867, mas fechada entre 1846 e 1847), estação de Paraibuna (que seguiu a anterior de 1875 até 1886), e ainda Monte Serrat, criada am 1886 para substituir a segunda. Finalmente, Wittig & Wittig (Lista dos Carimbos Postais do Império do Brasil, 2ª ed., Lohmar, 2016) catalogam cinco agências: três chamadas de Parahybuna (em MG, RJ e SP), uma Parahibuna fluminense, que seria idêntica à segunda entre as três anteriormente citadas, e ainda Ponte do Parahybuna, também no Rio de Janeiro.
Uma pesquisa mais demorada na imprensa imperial trouxe à tona algumas informações para ajudar a esclarecer o caso. Em primeiro lugar, pudemos confirmar a data mais antiga para a criação da agência postal no registro:
Diario do Rio de Janeiro, 14 de maio de 1840
Dois anos mais tarde, a ponte foi incendiada por ocasião dos distúrbios da Revolução Liberal. Além disso, a agência foi assaltada por bandidos, que roubaram dinheiro e documentos:
Jornal do Commercio, 10 de outubro de 1842
A reconstrução da ponte foi mais demorada do que o previsto, e pelo visto a agência postal teve que fechar, pois foi reaberta em 1847:
Diario do Rio de Janeiro, 26 de junho de 1847
Em 1874, a instalação da estação ferroviária da E. F. D. Pedro II ao lado do registro talvez tenha provocado uma mudança da agência postal, pouco mais tarde. Paulo Novaes registra 1875 como o ano de abertura da agência postal ferroviária, mas a nota da imprensa mais antiga encotrada até agora data de 1883:
Gazeta da Tarde, 9 de novembro de 1883
Em 1886, esta estação ferroviária trocou de nome, para Monte Serrat, conforme já registrado por Novaes. Mas Monte Serrat é hoje uma bairro da outra margem, no lado fluminense, portanto:
Gazeta de Noticias, 13 de novembro de 1886
Ainda hoje não é possível esclarecer se a agência do registro fechou devido à abertura da agência da estação, ou se ambas agências teriam operado lado a lado por algum tempo, o que seria muito estranho. O fato é que a agência do registro foi mencionada diversas vezes, ainda bastante depois da instalação da estação:
Almanak Laemmert, 1881
Como se tudo isso não bastasse, o único carimbo do registro até agora conhecido, (RRJ-3930a, Corinphila, Zurique) também apresenta um mistério por desvendar:
Corinphila, Zürich, Auktion 237
Seria a primeira letra um R, ou apenas um P transformado a mão em R? E a data de 1882 contradiz claramente com a informação de Novaes, Segundo a qual a agência do registro teria fechado em torno de 1867. Aqui há ainda muito por descobrir...
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